Acho triste que a vida nos presenteie apenas com alguns poucos amigos realmente bons e fiéis. Mais triste do que serem poucos ao longo de toda uma vida, é quando a vida nos tira um deles. É inevitável que seja assim, pois é assim que é, e nada se pode fazer a respeito. Todos teremos o nosso final aqui.
Mas essa verdade não alivia a dor e a tristeza que me vem ao lembrar do amigo que foi amigo nos momentos mais difíceis e, aprendi, mais improváveis para se ter amigos. Amigo dos momentos onde somos intragáveis, daqueles onde não se tem nada a oferecer a não ser uma conversa que, geralmente, porta amargura e rancor e, mesmo assim, amigo verdadeiro, não deixou de me receber, ouvir, aconselhar e até mesmo de me procurar quando eu, ressentido com a vida, me isolava.
Amigo que dividiu várias refeições quando eu não tinha o que comer, que juntou sua refeição a minha para que tivessemos uma refeição completa, que forneceu a cozinha quando havia a refeição mas faltava o gás para cozê-la.
Amigo que também discordava, que também se irritava. Eventualmente passávamos tempos sem nos ver, apesar da proximidade geográfica, para nos recompor das opiniões contrárias, mas que, digerida a adversidade, logo estava pronto para uma nova rodada de argumentações e contra argumentações. Amigo que falava e ouvia. Amigo que ensinava e, creio, também aprendia.
A distância geográfica reduziu o nosso contato. Senti muito a falta de visitá-lo e de recebê-lo. De dividir as refeições, as ideias, as opiniões, as conversas. Agora a vida, como ela é, traz a realidade de que nunca mais haverão visitas ou conversas mas apenas saudosas lembranças.
Verdades contrastantes que só podem ser ironia: Amigo com orientação política PSDBista, que faz aniversário no mesmo dia que o ex-presidente Lula (enquando eu, PTista de berço, faço aniversário no mesmo dia que o ex-presidente FHC). Amigo que tão dispar, não me afrontou, mas me apresentou muitos outros pontos de vista da realidade.
Obrigado por tudo, grande amigo. Descanse em paz José Carlos Pohl.
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